Tuesday, August 31, 2010

O vento se acalma.
Vou içar a minha vela de canções.
Timoneiro, senta-te junto ao timão,
pois a minha barca está impaciente para se libertar
e bailar ao ritmo do vento e da água.

O dia se apaga e os meus amigos da margem já foram embora.
Solta as amarras e suspende a âncora!
Nós velejaremos à luz das estrelas!

Neste momento da minha despedida,
o vento sopra com murmúrios de música.
Timoneiro, senta-te junto ao timão!

Rabindranath Tagore

Wednesday, May 05, 2010

Um dia nada convencional - Parte 1

Essa história verídica aconteceu ano passado, no mês de maio. Vou contá-la aos poucos, pois é comprida...

Fui passar uma semana trabalhando na FioCruz do Rio, trabalhando com um professor muito bacana, o Ernesto. E, como estudante é pobre em recursos financeiros, pedi asilo na casa da minha amiga-bióloga-da-faculdade Aninha que mora lá.
Tem um serviço de transporte por van, muito bacana que te pega no aeroporto e te deixa no hotel. O custo-benefício dele é sem comparação ao do táxi! Sempre procuro por esse tipo de serviço antes de viajar. Chego a economizar 50-60 reais no trecho aeroporto-hotel! Mas como o serviço é restrito a deixar o passageiro na frente do hotel, eu tive que procurar pelo hotel mais próximo da casa da Aninha. Assim, eu economizaria e ainda perdia umas calorias carregando minha mala pelas calçadas de Ipanema.

E lá fui eu marcar o esquema pelo site da empresa de transporte. Marquei o horário que eu queria que eles me pegassem no aeroporto. Inclusive, tive que marcar uma hora e meia mais tarde do que eu chegaria, porque eu fiquei receosa de perder o esquema, né? Até porque as vans sempre estão preenchidas. Perdeu? Já Elvis...
Mas, mal sabia eu quer essa hora faria diferença em tudo o que aconteceria depois naquele dia. =P

O dia já tinha começado estranho no aeroporto de Brasília. Meu vôo foi remanejado. Tive que descer, pois eu precisaria pegar um ônibus dentro do aeroporto para chegar ao avião. E por isso, o portão de embarque é num tipo subsolo do aeroporto, de frente pra pista. Esse pequeno saguão abriga dois portões de embarque, mas é minúúúsculo e estava lotaaaado! Com certa dificuldade, eu encontrei um canto pra sentar, porque vários vôos atrasaram (e o meu não, eu disse que tava estranho, né!?). Coloquei meu fone, botei uma música bacana e comecei a busca pelo chocolate perdido no buraco negro que é a minha bolsa. "Oba, achei!" Distraída pelo chocolate, do nada, sinto que estou sendo rodeada por pessoas (e olha que o chocolate não estava batizado, hein!) e o número aumentava a cada momento que se passava. Tinha um círculo de pessoas ao meu redor. E eu, sem entender, olhava aquele povo, que tirava foto e falava alto.
Aí, vejo uma pessoa vestida em uma blusa preta, bem perto de mim, com uns dizeres extremamente esclarecedores em suas costas: STAFF. Bastou pra que eu entendesse que o povo ali era importantche! Claro que eu tenho minha porção interiorana no sangue (êê Goiás!). Aquele bichinho da curiosidade começou a coçar e eu levantei logo da cadeira.
Fiquei a ponta dos pés, me estiquei, vi um monte de caixa de instrumentos musicais e pensei: "Ah massa! Deve ser uma banda daqui de Brasília! Quem sabe Capital ou Paralamas?" Observei outras pessoas de preto, mas todas estavam de costas. De repente, começam os gritos e aquele furdunço!
A densidade populacional começou a aumentar ali naquela área, além dos flashes das máquinas, dos celulares filmando e eu com cara de abestada, sem saber o que/quem estava passando.
Ah, eu queria descobrir! Agora era uma questão de honra! =D Mas, a luz ao meu cérebro veio quando vi um cara alto, meio gordinho, com um cabelo meio pra cima e um óculos escuros, tão escuros que eu não entendia como ele estava andando sem tropeçar nas coisas.

"Djísus! Não é o Capital! Não é o Paralamas! Esse cara só pode ser terrorista! Só pode ser terrorista!!".

Ah, nem! Que decepção!! Era o carinha do KLB.
(continua)

Friday, April 23, 2010

Já que eu não podia ter cachorro...

Sentada na minha cama fofinha, ao lado do meu fiel escudeiro Fuinha. Olhando pra parede, sinto falta do Eddie. Ele era um peixe betta vermelho, bem bonito, que chegou aqui em casa já adulto e passou três anos comigo.

No Carrefour perto de casa, tinha uma loja de peixes ornamentais e aquários. Enquanto meus pais estavam fazendo compras, eu adorava ir lá e passava muito tempo olhando os peixes. Tinha neon, carpas japonesas, acarás disco... mas eu gostava muito dos bettas. Não sei o motivo da minha empatia, mas com certeza não foi pela beleza (mesmo esses peixes sendo belíssimos).

Honestamente, eu gostava do brilho e da rapidez dos neons, da graciosidade das carpas japonesas e da capacidade de sumir de perfil que o acará disco tinha. No entanto os bettas... ah eles são encantadores! Primeiro por serem muito resistentes. Plantinha, filtro aerador?! Namm! Não precisa. Água torneiral?? Tá valendo! Os bettas conseguem viver num ambiente com pouco oxigênio (não poluído!) porque ele possui estruturas que são capazer de obter oxigênio do ar. A maioria das pessoas acha que são peixes solitários e extremamente agressivos. O Eddie mesmo se estressava quando eu colocava o espelho na borda do aquário. Era de lascar e vamos mostrar quem é que manda aqui!! :) Tá, eu concordo que, com o passar do tempo, eles foram selecionados por cruzamentos para atender a vontade de criadores que os utilizam pra brigas e, dessa forma, ganharam tal fama. Inclusive, em Portugal, os "purtuguesis" o chamam de Combatente. Porém, o que nem todo mundo sabe é que se as espécies que estão ao seu redor forem pacíficas, eles conseguem conviver sem problemas.

Sinto saudade de acordar e fingir que ainda estou dormindo só pra enganar o Eddie. Ele sabia a hora que eu dava comida, então era assim todo dia: acorda>>espreguiça>>senta>>levanta>>"Bom dia, Fuinha!">>"Bom dia, Eddie!">>estalava os dedos>>colocava comida pro Eddie. Ele ficava parado sempre no mesmo lugar, de frente pra mim, esperando que eu me mexesse. Assim que eu me mexia, e sentava na cama, ele ficava num estado elétrico dentro do aquário, abanando a cauda, quase como um cachorro! E sempre na região mediana do aquário. Era só eu me aproximar que ele movia em direção à superfície (provavelmente esperando o rango, né?). Era bom acordar e vê-lo mudar de comportamento. E eu adoraaaava fingir de dorminhoca só pra ver melhor essa transição. Era quase como se ele soubesse que fazia parte da minha rotina, e como consequência, de mim também.

Acho que com o passar do tempo, eu me tornei um pouco betta... um pouco Betta splendens!! E percebo que a gente deveria ter um olhar mais cuidadoso em relação às pequenas atitudes e comportamentos de pessoas (e nesse caso, de animais) que passam nas nossas vidas. A gente nem sempre ensina algo, mas com certeza, a gente sempre aprende.

;)

P.S.: Esqueci de dizer que o Eddie tinha uma cabeça esquisita, meio torta, sabe... Aí, eu dei o nome em homenagem ao Eddie the Head, bródi dos Iron Maiden.

P.S.2: O Eddie foi enterrado embaixo do pé de pau-Brasil que plantamos no final da ala sul do ICC/UnB em 2004. [Eu já plantei uma árvore, agora falta escrever um livro e ter um filho, segundo o poeta José Martí hahahahahahah] ;)

Monday, April 19, 2010

Estudante da UnB é preso e torturado após manifestação contra eleição indireta

Não preciso fazer mais comentários. O relato do autor, Diogo Ramalho, que foi torturado, é suficiente para atestar a barbárie:


Do protesto à tortura

Sábado, dia 17 de Abril de 2010, foi mais um dia que entrou para a História do Distrito Federal, dentro do contexto da maior crise Institucional-Política já enfrentada pela Capital desde sua Fundação, 50 anos atras. Os protestos se iniciaram na sexta-feira a noite, através de uma vigília convocada pelo Movimento Fora Arruda e Toda Máfia em frente à Câmara Legislativa do Distrito Federal. Na vigília houve músicas, brincadeiras como Mímica e reflexões.

O sábado começou agitado, das cerca de 30 pessoas que dormiram na vigília, às 14h da tarde o número saltou para quase 300 pessoas , uma hora antes de iniciar a seção da Câmara que elegeu o escolhido de Arruda pra Governar Interinamente o Distrito Federal até 31 de Dezembro. Estudantes, trabalhadores, cidadãos vieram de toda parte do DF protestar contra uma eleição totalmente ilegitima, que dos 24 votantes do seu colégio eleitoral, 10 parlamentares e suplentes foram flagrados na Operação Caixa de Pandora: a Eurides da Bolsa, o Geraldo Naves que saiu da Penitenciaria 4 dias antes da votação, entre outros.

Às 15h, quando iniciava-se a seção dentro da Câmara, na rua que dá acesso à CLDF manifestantes atearam fogo em pneus interditando por 10 minutos a via. Às 16h dezenas de manifestantes tentaram entrar na galeria para garantirem o ideal democrático de que na casa do povo, o povo, não pode ser impedido de entrar, ainda mais quando em nome dele, corruptos decidem. A resposta imediata da polícia militar, sobre o comando do Coronel Silva Filho (aquele que em 09 de Dezembro, a mando de Arruda, massacrou com cavalaria e muita violência 5mil cidadãos que protestavam em frente ao Palácio Buriti) foi de repressão violenta, cacetadas para todo lado, gás de pimenta, socos e pontapés. 20 pessoas ficaram feridas, 8 tiveram que ser atendidas em hospitais, 2 policias se feriram, 6 pessoas foram presas. Eu fui o segundo a ser preso.

Quando prenderam o primeiro companheiro, eu era um dos que gritavam para soltá-lo, e gritei bem forte várias vezes "Vocês têm que prender os filhos da puta que estão aí dentro votando em nosso nome". No meio do caos, muita confusão, um tenente já conhecido meu de outros protestos, olhou no meu olho enfurecido e disse que prenderia a mim. Eu disse "Prende então, não estou fazendo nada". Fui preso por desacato a autoridade.

A PM estava enfurecida, mas fui conduzido primeiro para a 2º DP, onde já encontrei rapidamente com o advogado do Movimento Fora Arruda e Toda Máfia, que me orientou a ficar em silêncio até a chegada dele na DRPI, para onde eu estava sendo transferido, pois era um direito constitucional meu. Fiquei 30 minutos na viatura, sem sofrer qualquer violência dos Policiais Militares. Chegando na DRPI, ainda sozinho, na presença apenas dos 3 policiais militares e 3 policiais civis, sentei-me no banco e aguardei, então começou a tortura moral. O policial civil agente Barcelar, que me torturou fisicamente momentos adiante, iniciou o dialogo com os policias militares dizendo que esses baderneiros deviam ser todos viados, porque ao invés de estarem em casa fudendo uma mulher, estavam nas ruas protestando, e aí seguiram-se as ofensas verbais, eu, calado.

Num dado momento o agente Barcelar me perguntou se minha identidade era do Distrito Federal, eu disse que era de Minas Gerais, aí, mais ofensas "O que você tá fazendo aqui seu merda? Você nem de Brasília é seu bosta e tá protestando, puta que pariu, etc". Em seguida perguntou meu nome para puxar minha ficha, eu disse "Só vou falar quando meu advogado chegar" isso foi o suficiente para dar início a tortura.

O agente Barcelar, (ex-carcereiro por mais de 15 anos, agora trabalhando no "Administrativo") após a minha simples frase de que estava aguardando meu advogado, deu a volta no balcão de atendimento, foi até a cadeira em que eu permanecia sentado, me pegou pela camisa me jogando com violência no chão, rasgando toda a lateral da camisa, e já iniciando uma série de murros na cabeça, chute, e me arrastando pelos cabelos junto a outro agente da polícia civil, que eu não soube identificar posteriormente porque eu estava no chão, e as duas mãos do agente Barcelar a a mão do outro agente me arrastaram pelos cabelos, pelos corredores da DRPI, até chegar na cela, onde, por estar sendo arrastado lesionei a coluna na barra de ferro do chão da cela.

O agente bateu a porta da cela e disse que eu era um merda e que iria apanhar mais.

10 minutos depois o advogado e outra estudante chegaram, de dentro da cela eu escutava o agente Barcelar dizer que eu tinha me jogado no chão, de lá da cela eu gritava que tinha sido espancado. Quando o advogado chegou diante da cela, lhe disse que fui espancado, o agente chegou a admitir na frente do advogado, dizendo que me puxou pelos cabelos porque eu não quis fornecer os dados que me solicitou. Mais adiante, conforme mais pessoas chegaram, o agente passou a dizer que nada aconteceu, que eu estava com a camisa rasgada e com visíveis marcas de agressão porque me joguei no chão.

Depois, fui conduzido enjaulado em uma viatura da Polícia Civil até o Instituto Médico Legal, onde foram constatadas todas as agressões que sofri na DRPI. O mesmo agente Barcelar tomou meu depoimento e se negou a colocar no inquérito as agressões que sofri, colocando a si próprio como vitima, me acusando de ter resistido a prestar informações.

Eis o Estado de Direito, onde Parlamentares corruptos nunca vão, e quando vão, nunca permanecem presos. Eis o Estado de Direito, onde você vai preso por desacato por protestar, e quando chega sozinho na Delegacia de Polícia, é ofendido verbalmente e em seguida espancado covardemente na presença de 6 polícias.

Parabéns Brasília? 50 anos de Quê?

Diogo Ramalho é estudante de Letras Espanhol da Universidade de Brasília; membro do Movimento Fora Arruda e Toda Máfia; coordenador executivo e editor político do Jornal O MIRACULOSO.

Monday, April 05, 2010

Think different, as children do. ;)

Fim de semana para rever pessoas queridas e conhecer pessoas novas, filhos dos amigos dos amigos. E nesse bolo estavam o Artur (6 anos) e o Marco (2 anos e meio). Estávamos todos na praia.

Pra alegria da criançada, tinha uma pseudo-prancha-de-bodyboard e uma bola grande (daquelas que sempre vende no Parque da Cidade - povo de Bsb - ou durante a Festa de Santa Luzia - povo de Natal/Mossoró, sabe?). Os adultos olhando as crianças se divertindo ao longe (incluindo o Carlinhos, que tem 30 anos e pela felicidade parecia que tinha 12!).

A mãe dos dois pequenos, sentada ao meu lado, me contou que eles gostavam muito de gatos. Que um dia ela estava em casa com os três (crianças + gato) e ouviu um miado assim, como se fosse de dor, como se... como se o gato estivesse doente, morrendo, coisa esquisita, sei lá! Ela saiu e chegou na sala. Imagina a cena (com C, viu Sasha?): Artur segurando as duas patas traseiras e Marcos segurando as outras duas. O gato, ainda filhote, todo esticado, coitado, miava sem entender o que estava acontecendo. E a mãe disse: "Meninos, q que vocês estão fazendo com o A???!"

Interrompi a minha risada no meio. A??? Aaaa???? Como assim, A??

Aí ela continuou:
- É Carol, o nome do gato é A.

A inevitável pergunta: mas por quêêêê?!

- É que antes, a gente tinha uma gatinha. Pegamos no abrigo de adoção também, da mesma forma que o A. Mas como era uma gata de rua, meio doidinha, a gente deu o nome de Amy, em homenagem à Amy Winehouse.

Ok, entendi. E aí?

- Aí a Amy morreu. Também, com esse nome, não iria viver muito... hahahahahahaha Então, depois de um tempo, decidimos pegar outro gatinho no mesmo abrigo. Quando o gato chegou em casa, os dois meninos correram pra vê-lo e eu perguntei:
"Então, crianças, qual vai ser o nome do gato?"
O Artur falou logo: "A."
Mas filho, A? Só A? Que tal Alberto?
"Não, mãe, vai ser A. Só A."
"Tudo bem, mas por que A?"

E o Artur respondeu:
"Ué, o outro se chamava M de Marco, então esse vai se chamar A de Artur."

Crianças, elas pensam de um jeito totalmente diferente. =)

Wednesday, March 25, 2009

Pequenas atitudes

Às vezes é bom parar um pouco o que se está fazendo e prestar atenção ao redor. Muitos dos grandes problemas poderiam ser evitados se pequenas atitudes que realmente fazem a diferença fossem tomadas.

Eu, como todo bom aquariano, penso sempre que o futuro é logo ali. E o futuro é o conjunto das pequenas atitudes que você toma no presente. Por mais que elas não tenham efeito imediato, o efeito cumulativo pode ser observado facilmente dado um tempo.

Wednesday, February 11, 2009

Mestrado

Sempre ouvi falar que o mestrado gera traumas. Eu pensava que nem tanto, mas gera sim. Ainda mais quando as coisas não dão certo.

Quando saímos da graduação, existem vários caminhos para seguir (embora as pessoas continuem achando que as oportunidade são poucas). No meu caso, escolhi fazer mestrado, ou seja, entrar num caminho tortuoso que no final (teoricamente) me faria sentir um pouco mais cientista (Será?). Logo que passei na prova (o que foi um problema, mas essa é outra história), acabei sendo agraciada com uma bolsa de pouco mais de mil reais. Ora, até então eu tinha nas costas 24 anos de idade e 19 anos de estudo. A partir dali seriam mais dois anos, fazendo com que meu estudo, ao final do mestrado se tornasse, por direito, maior de idade e tivesse sua independência consagrada pela Constituição Brasileira (eu, particularmente, continuava dependente dos meus pais...).

Mesmo sabendo disso, decidi embarcar num projeto que parecia ao mesmo tempo audacioso e ultra-moderno. Encarei as células-tronco humanas de frente, sem medo de tomar uma chinelada depois. Passei um ano cursando disciplinas (algumas serviram para me questionar o porquê! Mas não o porquê das coisas e sim, 'meu Deus porquê, porquêêêê eu escolhi academia?!! Onde estava meu córtex pré-frontal?? (é onde ficam o tico e teco responsáveis pela tomada de decisões).

Depois desse ano inteiro de disciplinas e o término de relacionamento longo (sim, essas coisas sempre aparecem para ajudar, segundo a lei de Murphy), eu dei início à fase de experimentos. Colocar a mão na massa (até porque o comitê de ética só liberou o trabalho depois de 1 ano e 2 meses de curso...) Ou seja, restavam 10 meses para aprender como se cultiva células humanas (eu trabalhei na graduação com bactérias), testar protocolos de cultivo e diferenciação pra saber eram mesmo células tronco (tava achando que era fácil assim?! Não, não seu João!), executar os experimentos propriamente ditos, analisar os resultados, escrever, qualificar, corrigir, repetir os testes e defender. Ufa! É, seria pouco tempo pra tudo isso, mas fazer o quê? Se não for com emoção, não tem tanta graça. Mas como Murphy é bródi, ele me mostrou, faltando 6 meses para a defesa, que esse projeto com células tronco não iria dar certo (não, eu nããão estou de brincadeira!). Mudei. Sim, aliás, TIVE que mudar. Da água pro vinho. Afinal, ainda gastei mais dois meses e meio tentando ver se as coisas funcionariam, se daria certo ainda, em vão.

Bom, tinha ainda 3 meses pela frente. É, eu tinha... Qualifiquei dois meses depois com dados de análises computacionais relativos à genomas bacterianos (é claro, não gasta material, as células não morrem e o pior que pode acontecer é o computador parar de funcionar, mas eu sou espertinha e já fiz zilhões de backups! Aliás, eu sou uma latifundiária de gigabytes porque a minha fazenda já está com 660Gb de espaço!!). É como eu disse antes: eu tinha três meses. Agora só tenho mais dois dias pra entregar a versão final para a banca. E estou aqui, correndo, escrevendo, com enormes olheiras e estressando meu namorado, meu urso de pelúcia e meu violão. Coitados...

Mas honestamente, hoje eu olho pra trás, vejo o quanto eu vivi esses dois anos, o quanto eu aprendi e sinto que estou seguindo o caminho certo. Porque os buracos existem. De alguns a gente desvia, em outros a gente cai. O mais importante é saber recomeçar. Para alguns, isso acontece e eles ainda têm muito tempo. No meu caso, eu estou tendo pouco, mas mesmo assim, eu estou dando o melhor de mim, provando pra mim mesma que os limites estão apenas na minha cabeça.

E desejo a você um recomeço em cada dia que você viver. Seja nas pequenas coisas, ou nas grandes, seja em casa, ou fora dela. Que você encontre oportunidades para mudar, fazer o novo (ou refazer o velho). Que você encontre força para isso e que, quando o fizer, saiba que não existe ninguém que possa lhe julgar ou lhe impedir. Lembre-se sempre de que os limites quem faz é você, à medida que você traça seu caminho.


Aquarian21.